Cigarro eletrônico: consumo aumenta e cresce o risco de cânceres

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 12/04/2023 13h00, última modificação 12/04/2023 12h35
A venda do cigarro eletrônico é proibida no Brasil, mas é facilmente encontrado nas portas de festas, baladas ou bares

O cigarro eletrônico invade os encontros sociais, principalmente entre os jovens. Também chamados de pods ou vape, a utilização dos dispositivos tem crescido no país, inclusive no Distrito Federal. Segundo especialistas, o uso faz mal à saúde e, apesar de muitos adolescentes e adultos terem consciência dos malefícios causados, continuam utilizando seja por diversão, por aceitação ou por substituição do cigarro comum. Vale ressaltar que os produtos eletrônicos têm venda proibida no Brasil, mas são facilmente encontrados nas portas de festas, baladas ou bares.

 

A estudante Paula Oliveira*, 21 anos, conheceu os cigarros eletrônicos na roda de amigos e decidiu experimentar há quatro anos. Com gosto e cheiro bons, a jovem adotou o hábito e, desde então, faz uso dos dispositivos nas idas a festas, bares e encontros com os colegas. "Nunca gostei de fumar outros tipos de cigarro, mas aderi ao vape. É algo mais social", comenta. Ela conta que a possibilidade de sabores e a praticidade são fatores que facilitam o uso. "Sei do mal que faz, mas procuro não extrapolar no uso dos pods", ressalta.

 


Substituindo o cigarro branco pelo eletrônico, a autônoma Priscila Silva*, 32 anos, começou a usar os pods para reduzir o vício no tabaco comum. "Eu fumava muito e vi no cigarro eletrônico uma saída para reduzir meu hábito", conta. No entanto, ela afirma que faz uso dos dispositivos com frequência. "Costumo fumar os pods no intervalo do trabalho, durante a rotina do dia a dia", destaca, acrescentando que pretende reduzir o uso.

 

Facilidade

 

Para o administrador Pedro Lima*, 26 anos, o hábito de usar os vapes começou pela praticidade. "Eu já fumava os narguilés, mas os pods ajudaram a aumentar a frequência pela facilidade de usar nas festas, principalmente", comenta. Ele conta que a família dele não gosta e nem aprova o uso dos cigarros eletrônicos pelo mal que causa à saúde. "Acabo fumando escondido e só entre amigos", enfatiza, completando que entende a preocupação dos pais.

 

A médica pneumologista do Hospital Santa Lúcia, Grasielle Santana, diz que há um aumento crescente de usuários de cigarro eletrônico, com incidência maior entre os jovens. "Com ideia inicial de ajudar a cessar o tabagismo, a indústria do tabaco acabou por ganhar mais adeptos ao hábito de fumar, o que foi uma perda imensa em uma luta de tantos anos contra o tabagismo", pontua.

 

Segundo a especialista, um dos fatores mais importantes que dificultam cortar o tabaco é a dependência de nicotina. "O cigarro eletrônico surgiu como uma forma de dependência maior a essa substância, por ter componente saborizado e com possibilidade de níveis de concentração a escolha do usuário", destaca a médica.

 

A pneumologista ressalta que é falsa a ideia de que o cigarro eletrônico não causa danos, pois além da nicotina, há também diversas outras substâncias nos dispositivos, inclusive algumas com potencial cancerígeno. "Alguns estudos de danos a curto prazo evidenciam lesão pulmonar secundária, mas esse dano pode ser ainda maior, com uso a longo prazo", avalia.

 

Com isso, a médica destaca que, em qualquer circunstância, a adesão ao uso do cigarro eletrônico é contra indicada. Entre as doenças mais comuns que podem ser causadas pelo uso de pods e vapes estão os cânceres de pulmão, de boca e de língua, além de bronquite, agudização de asma em quem tem e bronquiolite.

 

Comportamento

 

Especialista em comportamento juvenil e adulto, a psicóloga Lilian Nandes, avalia que os jovens costumam adotar comportamentos, buscando essa aceitação no meio em que vivem. "Um jovem inicia o hábito de fumar, geralmente reproduzindo o comportamento advindo de alguma figura com quem ele tenha qualquer contato, seja ele positivo ou negativo", destaca Lilian.

 

A psicóloga explica que, durante a adolescência, as pessoas estão em uma fase de autoconhecimento e de busca de identidade. "Isso faz com que nos permitamos experimentar atividades desconhecidas na tentativa de nos tornarmos parte de um determinado grupo", pontua. Segundo ela, os comportamentos costumam ser reforçados mediante um estímulo de recompensa, ou seja, quando os jovens percebem que são bem vistos fazendo uso de cigarros, eles tendem a permanecer com o hábito.

 

Venda proibida

 

No Brasil, a venda de cigarros eletrônicos é proibida, sendo considerada crime de contrabando e contra as relações de consumo previsto na Lei n. 8.137/1990. Ainda em 2009, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a comercialização, a importação e a propaganda de cigarros eletrônicos no país. A decisão foi mantida pela agência reguladora em julho de 2022. No entanto, as vendas dos dispositivos continuam ocorrendo em portas de festas, baladas e bares, principalmente.

 

Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) desencadeou uma operação para coibir a venda de cigarros eletrônicos em tabacarias do Sudoeste após uma denúncia anônima. As equipes apreenderam na ação cerca de 2 mil cigarros eletrônicos e aproximadamente 1 mil essências para os dispositivos.

 

*Nomes fictícios foram usados para manter em sigilo as identidades dos entrevistados

 

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Fonte: Estado de Minas/Correio Braziliense

Imagem: Lindsay Fox/Pixabay

Edição: Site TV Assembleia