Combate ao trabalho infantil requer redução da pobreza, diz agência da ONU
A ONU pede mais empenho dos países para combater o trabalho infantil. A Organização Internacional do Trabalho, OIT, fez um apelo para que seja alcançada a ratificação plena da Convenção 138, sobre a Idade Mínima e implementação efetiva da Convenção 182, sobre as Piores Formas de Trabalho Infantil.
Pressão econômica nas famílias
Em relatório conjunto com o Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, a OIT revelou que 138 milhões de crianças foram submetidas a alguma forma de trabalho no ano passado. Os dados indicam que 54 milhões delas ocupam funções perigosas.
Nas últimas duas décadas, o mundo progrediu de forma constante na redução do trabalho infantil. Porém, nos últimos anos, conflitos, crises e a pandemia de Covid-19 aumentaram a quantidade de famílias assoladas pela pobreza.
Esse contexto forçou milhões de crianças a trabalhar.
De acordo com a OIT, o crescimento econômico não basta, nem tem sido suficientemente inclusivo para aliviar a pressão que muitas famílias e comunidades sentem e que as leva a recorrer ao trabalho infantil.
Impactos das transições demográficasTrabalho infantil faz 138 milhões de vítimas em todo o mundo
A África ocupa o primeiro lugar entre as regiões, tanto na porcentagem de crianças em trabalho infantil, que está em 22%, quanto no número absoluto de menores afetados, estimado em 87 milhões. A Ásia Central e Meridional vem em segundo lugar com 17 milhões.
Se os níveis de prevalência não baixarem, o número de crianças em situação de trabalho infantil na África Subsaariana ultrapassará os 100 milhões após 2030, devido ao crescimento populacional.
A agência acredita que maioria das demais regiões poderá quase que erradicar o trabalho infantil nas próximas décadas, considerando a redução da população infantil na Ásia-Pacífico e a América Latina, por exemplo.
Nessas regiões, uma queda acentuada da fertilidade e as transições demográficas já reduziram as necessidades de educação e outros serviços, facilitando a extensão da cobertura e o apoio aos esforços para eliminar o trabalho infantil.
Trabalho infantil faz 138 milhões de vítimas em todo o mundo
Novas estimativas divulgadas, nesta quarta-feira, revelam que quase 138 milhões de crianças foram submetidas a alguma forma de trabalho infantil no ano passado.
O levantamento do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e da Organização Internacional do Trabalho, OIT, indica ainda que 54 milhões delas praticam trabalhos perigosos, que podem comprometer sua saúde, segurança ou desenvolvimento.
Agricultura é setor de maior incidência
Os dados mostram uma redução total de mais de 20 milhões de crianças vítimas do trabalho infantil desde 2020, mas a meta de eliminar o problema até este ano não foi alcançada.
De acordo com relatório, 61% dos casos de trabalho infantil ocorrem no setor da agricultura.
Em seguida vem o de serviços, como trabalho doméstico e venda de mercadorias, com 27%, e a indústria, com 13%, incluindo áreas como mineração e manufatura.
Dados regionais
A região da Ásia-Pacífico alcançou a redução mais significativa na prevalência desde 2020, com a taxa de trabalho infantil caindo de 6% para 3%, o que representa uma diminuição de 49 milhões para 28 milhões de crianças.
Já na América Latina e Caribe, embora a prevalência tenha permanecido a mesma nos últimos quatro anos, o número total de crianças afetadas caiu de 8 milhões para cerca de 7 milhões.
A África Subsaariana abriga dois terços de todos os menores trabalhando, cerca de 87 milhões. Embora a prevalência tenha caído de 24% para 22%, o número total permaneceu estagnado em um cenário de crescimento populacional, conflitos e pobreza extrema.
A importância de empregar os pais
O diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo, afirmou que os próprios pais devem ser apoiados e ter acesso a um trabalho decente para assim consigam garantir que seus filhos estudem ao invés de serem obrigados a trabalhar em fazendas ou mercados para ajudar a sustentar a família.
Já a diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, afirma que a erradicação do trabalho infantil passa pela “aplicação de salvaguardas legais, ampliação da proteção social, investimento em educação gratuita e de qualidade e acesso a trabalho decente para adultos”.
Segundo ela, cortes globais de financiamento ameaçam reverter avanços “arduamente conquistados” nos últimos anos.
O trabalho infantil compromete a educação das crianças, limitando seus direitos e oportunidades futuras, e colocando-as em risco de danos físicos e mentais.
Fonte: ONU News - Imagem: Unicef/Nathalie Mazinge