São João: fé, fogueira e festa que atravessa os séculos

por Antônio Luiz Moreira Bezerra publicado 24/06/2025 14h00, última modificação 24/06/2025 10h43
As comemorações de junho giram em torno de três santos populares

Celebrado em 24 de junho, o Dia de São João é uma das datas mais simbólicas do calendário religioso e cultural brasileiro. Marcado pelas tradicionais festas juninas, o feriado em alguns partes do Brasil tem raízes profundas na religiosidade da Península Ibérica e, ao chegar ao Brasil com a colonização portuguesa, se misturou à cultura popular — especialmente à do Nordeste — ganhando uma identidade própria que envolve fé, música, dança, culinária e muita alegria.

 

São João Batista: fé e tradição


Segundo a Igreja Católica, João Batista é considerado o precursor de Jesus Cristo e o último dos profetas. Foi ele quem batizou Jesus nas águas do Rio Jordão. A Bíblia relata que sua mãe, Santa Isabel, era prima de Maria, mãe de Jesus.

 

De acordo com a tradição cristã, Isabel teria acendido uma fogueira no alto de uma colina para avisar Maria sobre o nascimento de seu filho. A partir desse gesto simbólico, surgiu o costume de acender fogueiras em homenagem a São João — uma das marcas mais fortes das festas juninas até hoje.

 

Santos do mês e o ciclo junino


As comemorações de junho giram em torno de três santos populares. O ciclo começa no dia 13 com Santo Antônio, conhecido como o santo casamenteiro; segue com São João no dia 24, e se encerra no dia 29 com São Pedro. Cada um deles é celebrado com rituais próprios e com fogueiras de formatos distintos: redonda para São João, quadrada para Santo Antônio e triangular para São Pedro.

 

Raízes pagãs e o solstício


Antes mesmo do cristianismo, civilizações pagãs já celebravam essa época do ano em festas ligadas ao solstício de verão, no hemisfério norte, marcando o dia mais longo do ano. Eram celebrações em homenagem aos deuses da fertilidade e da natureza. A fogueira, nesses rituais, simbolizava proteção e agradecimento pelas colheitas.

 

No Brasil, onde junho marca o início do inverno, a fogueira ganhou o papel de aquecer e reunir as pessoas — uma metáfora perfeita para a união comunitária promovida pelas festas juninas.

 

Uma festa com gosto de milho e alma nordestina


Com o tempo, a Festa de São João — ou Festa Joanina, como era chamada em Portugal — ganhou o coração do povo brasileiro, especialmente no interior do Nordeste, onde se tornou uma das principais expressões do folclore nacional.

 

A culinária típica, baseada na colheita do milho, é um espetáculo à parte: pamonha, canjica, bolo de milho e curau se tornaram símbolos da fartura dessa época. Não por acaso, Luiz Gonzaga, o Rei do Baião, eternizou essa ligação na música "A Festa do Milho", onde canta: “O sertanejo festeja / A grande festa do milho / Alegre igual a mamãe / De ver voltar o seu filho”.

 

Campina Grande x Caruaru: quem tem o maior São João?


No Nordeste, duas cidades disputam há décadas o título de "maior São João do mundo": Campina Grande, na Paraíba, e Caruaru, em Pernambuco. Ambas promovem verdadeiros espetáculos durante todo o mês de junho, com shows, quadrilhas, comidas típicas e programação para todos os gostos. Nesses locais, inclusive, o dia 24 de junho é feriado municipal.

 

Mais que uma celebração religiosa


Hoje, o São João ultrapassa as fronteiras da religião e representa uma das mais vibrantes manifestações culturais do país. É tempo de acender a fogueira, vestir xadrez, dançar forró, saborear comidas típicas e celebrar a alegria de viver em comunidade.


Edição: Redação Site TV Alepi. Imagem: Agência Brasil/Marcello Casal Jr.