Criada nova coordenadoria para fortalecer debate sobre cuidado invisível e equidade
A Secretaria das Mulheres do Piauí (Sempi) dá mais um passo importante rumo à equidade de gênero e raça ao instituir a Coordenadoria de Garantia de Direitos e Cuidados para as Mulheres, um espaço estratégico para valorização e reconhecimento do trabalho de cuidado, historicamente exercido por mulheres, especialmente mulheres negras e periféricas.
A iniciativa está alinhada à construção da Política Nacional de Cuidados, instituída pela lei nº 15.069/2024, que visa promover a divisão justa das responsabilidades domésticas e de cuidado, garantindo às mulheres maior acesso a direitos, autonomia econômica e cidadania plena.
A Coordenadoria de Cuidados tem como missão articular ações intersetoriais, promover diagnósticos sobre o cenário do cuidado no estado, apoiar iniciativas de formação e elaborar diretrizes que garantam a inclusão dessa pauta nas políticas públicas do Piauí. A medida representa um avanço importante no enfrentamento às desigualdades estruturais e no reconhecimento do cuidado como direito e dever coletivo, e não como uma responsabilidade exclusiva das mulheres.
“A importância de políticas que incentivem o compartilhamento social do cuidado é fundamental, especialmente por meio da ampliação de equipamentos públicos. Cozinhas e lavanderias comunitárias, restaurantes populares, creches, bancos de alimentos e feiras econômicas não são ações pontuais, elas fazem parte de uma rede de apoio que ajuda as mulheres a enfrentarem a rotina pesada da dupla ou tripla jornada”, explica Tatiany Alves, coordenadora de Garantia de Direitos e Cuidados para as Mulheres da Sempi.
A coordenadora reforça ainda que é impossível falar de cuidado no Brasil sem falar das mulheres negras, que historicamente ocuparam esse lugar sem o devido reconhecimento ou suporte.
“As mulheres negras sempre cuidaram dos filhos, das famílias, das casas, das comunidades. Mas quase nunca foram cuidadas. A gente cresceu achando que era obrigação nossa dar conta de tudo, sozinhas. Por isso, as políticas de cuidado precisam olhar com atenção para a realidade das mulheres negras. Não dá para falar de cuidado sem falar de racismo, de desigualdade e de justiça. Cuidar também é garantir tempo para estudar, descansar, viver com dignidade”, acrescenta Tatiany Alves.
Neste mês de julho, quando se celebra o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, na sexta-feira (25), a Sempi volta suas ações à valorização, escuta e fortalecimento das mulheres negras. O cuidado, quando pensado sob a perspectiva do enfrentamento ao racismo estrutural, torna-se também um instrumento de justiça social.
“Muitas mulheres, sobretudo as mais pobres, que vivem nas periferias, não conseguem acessar serviços básicos devido à sobrecarga de tarefas, à falta de tempo e à dificuldade de mobilidade. Por isso, apoiar programas que integrem serviços e facilitem esse acesso é essencial para que as políticas públicas cheguem a quem realmente precisa. Quando o Estado investe nessa estrutura, ele está dizendo que o cuidado não é responsabilidade exclusiva das mulheres”, complementa Tatiany.
A Sempi tem desenvolvido ações concretas de curto, médio e longo prazo, dentro da Política de Cuidados, como:
- Edital “Sementes de Luta” – fomento à autonomia econômica de mulheres negras e indígenas;
- Lavanderias comunitárias – alívio da sobrecarga doméstica, devolvendo tempo e dignidade às mulheres;
- Cuidotecas nas universidades – espaços de acolhimento infantil que possibilitam a permanência de mães e responsáveis nos estudos;
- Cine Sempi sobre saúde da mulher negra – escuta, informação e valorização da vida das mulheres negras por meio da linguagem audiovisual.
Essas ações visam construir uma rede de apoio real e contínua, que dialogue com a vida das mulheres que, historicamente, sustentaram comunidades inteiras, mas que agora precisam ser cuidadas, reconhecidas e respeitadas.
Fonte: Sempi