ChatGPT muda inteligência artificial para sempre e afeta empregos e economia

por Ângela Núbia Carvalho Sousa publicado 06/02/2023 20h59, última modificação 06/02/2023 21h00
Chatbot representa um novo momento para a tecnologia e deverá impactar profissões ligadas ao Ensino Superior

Até para a inteligência artificial (IA) segmento no qual as descobertas avançaram velozmente na última década, os últimos dois meses foram intensos. Em 30 de novembro, a OpenAI, uma startup americana fundada em 2015, tornou público o ChatGPT, uma ferramenta poderosa que inaugura uma nova fase na relação da humanidade com as máquinas e que traz implicações econômicas e sociais para os próximos anos.

 

O ChatGPT é um robô de bate-papo (chatbot) gratuito capaz de produzir texto e trazer informações sobre assuntos diversos. A complexidade das respostas e a sofisticação da organização do texto chamam a atenção. Ele é capaz de produzir discursos de casamento, e-mails corporativos, textos em formato jornalístico, listas de organização e código de computação - é só saber pedir do jeito certo, inclusive em português.

 

A capacidade deu notoriedade ao sistema, que passou a ser testado por milhões de pessoas. Segundo uma pesquisa da Similarweb, o ChatGPT alcançou 100 milhões de usuários ativos em janeiro, o que faz dele o serviço na internet com o crescimento de usuários mais veloz da história - atualmente é comum ele travar devido ao alto tráfego. Os casos de uso passaram a ser diversos.

 

O professor Christian Terwiesch, da Universidade de Wharton, aplicou o exame final do Master in Business Administration (MBA) de sua universidade, além do Exame de Ordem (uma espécie de “prova da OAB” nos EUA) e também do Exame de Licenciamento Médico dos Estados Unidos (USMLE). Em todos os casos, a máquina passou e reforçou os temores do mundo acadêmico sobre a necessidade de revisar os métodos de avaliação.

 

Já o site de tecnologia Cnet colocou o ChatGPT para escrever textos - e foi criticado por não avisar os leitores nem remover erros factuais. O BuzzFeed foi além: anunciou que vai usar os algoritmos da OpenAI para produzir parte de seus conteúdos um mês depois que demitiu 180 pessoas. Enquanto isso, a revista Nature publicou um editorial no qual considera o ChatGPT uma ameaça para a ciência transparente.

 

Conheça a inteligência artificial gerativa

 

O ChatGPT não é o primeiro chatbot “esperto” de que se tem notícia. No ano passado, o LaMDA, do Google, fez barulho quando engenheiro da companhia afirmou que o sistema tinha desenvolvido consciência, algo refutado tanto pela empresa quanto por especialistas. O LaMDA, porém, nunca foi disponibilizado para uma grande audiência - startups como Character AI e Anthropic também têm ferramentas do tipo.

 

Mas, graças à popularidade alcançada nas redes sociais, o ChatGPT surge como o maior exemplo de um novo capítulo na IA.

 

“O ChatGPT abre uma nova era. Até aqui, os sistemas otimizavam a rotulação de dados. Agora, a IA é capaz de gerar conteúdo inédito, o que amplia as possibilidades criativas da máquina”, explica Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG).

O ChatGPT abre uma nova era. Até aqui, os sistemas otimizavam a rotulação de dados. Agora, a IA é capaz de gerar conteúdo inédito, o que amplia as possibilidades criativas da máquina

 

Anderson Soares, coordenador do Centro de Excelência em Inteligência Artificial da Universidade Federal de Goiás (UFG)

 

Isso significa que os algoritmos que estão presentes na vida da maioria das pessoas, como o sistema do YouTube que sugere vídeos, era capaz de capturar tendências e fazer correlações a partir de dados já existentes. A nova geração de IA dá um passo além, criando novas informações - essa nova classe é conhecida como “inteligência artificial gerativa”.

 

Durante todo o ano passado, IAs gerativas ganharam espaço não apenas com a produção de texto. Em abril do ano passado, a OpenAI lançou o DALL-E 2, que gera imagens a partir de comandos de texto - o que inspirou uma geração de sistemas do tipo, como o Midjourney e o Stable Diffusion. Surgiram também sistemas capazes de gerar vídeo e até de clonar a voz humana. O ChatGPT serviu como o empurrão final para essa nova classe de sistemas.

 

Fonte: Estadão

Imagem: Peter Morgan/ AP